19.9.08

alma.




As nuvens começaram a surgir sobre minha cabeça e o céu a escurecer. A ventania dispara, as plantas caem como se fossem gotas de chuva. Os transeuntes vão abrindo seus guarda-chuvas negros se preparando para o temporal que é anunciado por raios e trovões seguidos.
Apressam-se e eu cada vez mais devagar; nada desabaria, nem mesmo o céu, nada atingiria o estado no qual eu me encontrava. Sentei-me num desses banquinhos, observei o mar cada vez mais violento, a água caia de maneira bruta... Tudo ali se passava lentamente pra mim.
O DIA QUE PARECEU NÃO ACABAR. Aquele no qual você partiu, para sempre. Não partiu pra outra cidade ou outro país. Partiu para a outra dimensão: a dos meus sonhos. E só lá você estaria presente.
E eu me pergunto por que isso aconteceu logo agora, que eu mais precisava do teu carinho, do teu calor, da tua presença, do teu afeto? A perda dói. Arrancaram-me de uma vez você como se me arrancassem um órgão vital. Não há mais nada que me preenche. Nem a solidão. Ainda te sinto aqui, em cada lembrança.Você é parte de mim.

E que venha a primeira gota... Depois a tempestade. Que lave minha alma e a carregue pra perto da tua.

18.9.08

thing's i'll never say.




Minhas unhas pretas descascadas, o teu jeito engraçado de observar todos a sua volta e a nossa insegurança.
Existe uma vontade de aproximação quando os olhares se cruzam. Imagino as experiências que trocaríamos, coisas de nossas vidas absolutamente distintas, mas unidas pelo acaso.
Queria eu ter iniciativa, mas como chegar até você? Eu me sinto uma estúpida porque não sei como conversar “pela primeira vez” com as pessoas. Medo? Vergonha? Insegurança. O meu lado otimista me falta estas horas. “Para que fazer isso? Pra quebrar a cara de novo, e ele te achar uma boba?”. Mas e se ele gostar de mim? E se me achasse legal?
“Se... se...”, ah não, é sempre “se...”. Preciso agir mais, parar de perder todas as oportunidades de conhecer pessoas. É só que não seria a primeira vez que me decepcionaria com elas. Pela primeira impressão, eu já sei o que esperar delas; “pré-conceito”. Não, não é frescura.
Queria eu ter coragem de chegar, abrir um sorriso radiante para você cada dia, e sentir que era isso que você queria fazer e não conseguiu também. Que você dissesse algum dia, o quanto foi bom a gente ter se conhecido.
É, eu acho que as minhas unhas vão ficar um pouco mais descascadas. Porque é isso que eu faço quando olho pra você e penso nos meus “se...”. Mas eu pinto de novo. E no dia que elas estiverem conservadas, eu terei parado de estragá-las, porque talvez os olhos se prenderam de vez e deixaram de ser nosso único meio de comunicação.

16.9.08

sobre o menino nome-de-anjo




Eu o vi, mas fingi que não. Essa minha mania maluca, sabe-se lá porque raios faço isso, não é para testar ninguém, só acontece.
Mas ele me viu e veio manso. De rabo de olho eu o observava vindo, parecia que contava cada passo seu, em seus chinelos imundos, e pisando leve naquelas tábuas cobertas pelo tapete. “Oi!”. Virei, não contive o sorriso enorme e o “Você sumiu cara!”. Não obtive o mesmo sorriso como resposta; não aquele de costume, acompanhado de um abraço apertado. Abraçou-me como se fossemos meros conhecidos, que só tínhamos nos visto umas vezes. Talvez para ele no momento fosse, mas antes parecia mais. Todas aquelas coisas em comum tinham-se perdidas no tempo, como se tivessem arrancado dele, só se lembrava de quem eu era.
Tinha uma expressão triste, talvez cansaço. Seus olhos estavam vermelhos, ele fedia a cigarro, falava com dificuldade, vagarosamente, medindo cada palavra dita. Em corpo estava ali, mas não parecia presente. Estava aéreo em algum pensamento vago, na confusão de suas idéias. E eu aflita com a situação. Não é a melhor maneira de se rever alguém querido. Trocamos algumas poucas palavras, e um último abraço. Queria tê-lo apertado muito, de esmagar, só para lhe mostrar o quanto me preocupava seu estado: sujo, fedido, desolado, perdido em si. Mas não o fiz, ele não entenderia o que eu tentaria lhe dizer.
Fui-me embora. Passei o resto da noite me lembrando daquela cena. Triste.
Queria eu poder achá-lo dentro dele mesmo.
Talvez isto o salvasse e voltaria a ser o de antes.

Eu só queria meus sorrisos de volta...