16.9.08

sobre o menino nome-de-anjo




Eu o vi, mas fingi que não. Essa minha mania maluca, sabe-se lá porque raios faço isso, não é para testar ninguém, só acontece.
Mas ele me viu e veio manso. De rabo de olho eu o observava vindo, parecia que contava cada passo seu, em seus chinelos imundos, e pisando leve naquelas tábuas cobertas pelo tapete. “Oi!”. Virei, não contive o sorriso enorme e o “Você sumiu cara!”. Não obtive o mesmo sorriso como resposta; não aquele de costume, acompanhado de um abraço apertado. Abraçou-me como se fossemos meros conhecidos, que só tínhamos nos visto umas vezes. Talvez para ele no momento fosse, mas antes parecia mais. Todas aquelas coisas em comum tinham-se perdidas no tempo, como se tivessem arrancado dele, só se lembrava de quem eu era.
Tinha uma expressão triste, talvez cansaço. Seus olhos estavam vermelhos, ele fedia a cigarro, falava com dificuldade, vagarosamente, medindo cada palavra dita. Em corpo estava ali, mas não parecia presente. Estava aéreo em algum pensamento vago, na confusão de suas idéias. E eu aflita com a situação. Não é a melhor maneira de se rever alguém querido. Trocamos algumas poucas palavras, e um último abraço. Queria tê-lo apertado muito, de esmagar, só para lhe mostrar o quanto me preocupava seu estado: sujo, fedido, desolado, perdido em si. Mas não o fiz, ele não entenderia o que eu tentaria lhe dizer.
Fui-me embora. Passei o resto da noite me lembrando daquela cena. Triste.
Queria eu poder achá-lo dentro dele mesmo.
Talvez isto o salvasse e voltaria a ser o de antes.

Eu só queria meus sorrisos de volta...

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